A escalada do alcoolismo na
terceira idade
terceira idade
Aposentadoria e solidão fazem idosos se socorrer no álcool. Mas não faltam
histórias de superação
PRISCILA FREITAS / ESPECIAL PARA O DIÁRIO
PRISCILA FREITAS / ESPECIAL PARA O DIÁRIO
Ricardo
Oliveira/Diário SP
Reunião dos Alcoólicos Anônimos na Zona Leste de SP: ali, os idosos são maioria
Reunião dos Alcoólicos Anônimos na Zona Leste de SP: ali, os idosos são maioria
O alcoolismo sempre foi um problema difícil de
ser enfrentado em todas as fases, mas pesquisas revelam que na terceira
idade as dificuldades se tornam ainda maiores. Para piorar, a dependência da
bebida também vem aumentando nessa população.
De acordo com a ABEAD (Associação Brasileira de
Estudos do Álcool e Outras Drogas), as dificuldades nessa faixa etária começam
no diagnóstico. Isso porque os sintomas do alcoolismo podem ser confundidos com
outras doenças da idade, como demência, depressão e até a solidão, o que faz
com que os médicos e a família demorem mais a detectá-los.
Entre as causas do problema, está a
aposentadoria, apontada nos estudos como um fator que empurra os idosos para as
doses a mais. Foi assim com Luís Rodrigues. Ele conta que não conseguia ficar
em casa quando se aposentou. Passou a brigar muito com a mulher e a se sentir
sozinho. Para arrumar o que fazer, começou a frequentar o bar. “Eu bebia e me
sentia mais calmo”, conta o aposentado.
Quando percebeu, Luís estava deixando a família,
os filhos e os amigos mais antigos para ficar com aqueles que o acompanhavam
nos botecos. “Eu pensava que a bebida não me atrapalhava, que quem estava
errado não era eu e sim os outros”, conta Luís. “O pior do alcoolismo é que
vamos do estado de euforia para a depressão e não percebemos que estamos
doentes.”
Segundo Larriany Giglio, psiquiatra da Clínica
Novo Mundo, os idosos são mais vulneráveis à bebida, pois o metabolismo é mais
lento e o fígado, órgãoresponsável por processar o álcool, sofre uma redução
com o passar dos anos. “Os idosos apresentam riscos maiores dos efeitos
adversos, mesmo em doses relativamente baixas. Isso pode causar a conhecida
hepatite alcoólica e a temida cirrose”, afirma a médica.
Omar Jaluul, geriatra do Hospital Alemão Oswaldo
Cruz, chama atenção para o fato de os idosos, geralmente, tomarem remédios.
“Misturar álcool com medicamentos é muito perigoso em qualquer idade e muito
mais na avançada. Os riscos de depressão, hipertensão e perda de memória se
tornam muito maiores.”
Omar também diz que o idoso tende a ficar
embriagado mais rapidamente, mesmo ao ingerir doses pequenas. “E eles bebem de
forma muito rápida, sempre sozinhos, perdem o apetite e ficam muito mais
irritados”, conta o especialista.
“Comecei a beber como todo mundo. Bebia
socialmente, mas com o tempo isso virou rotina e afetou a minha vida”, conta
José Pereira, que está sem beber há dez anos.
Omar Jaluul também diz que várias consequências
do álcool são ainda mais graves para o idoso. “Há mais riscos de acidentes,
inclusive de trânsito.”
O especialista
explica que o alcoolismo pode ser uma herança familiar mas, no caso dos mais
velhos, a principal causa é, sem dúvida, de fundo psicológico. “O álcool
funciona como tranquilizador para medos, ansiedades e frustrações”, afirma
Omar. “Por isso, a abordagem psicológica e a terapia ocupacional são muito
eficientes no tratamento. E, de todas as ajudas, o apoio da família é a mais
importante.”
A família também precisa de ajuda
Além do alcoólatra, a família toda sofre e precisa de ajuda para entender o que se passa com o dependente e aprender a lidar com a situação. Para isso, foi criado o Grupo de Familiares AL-ANON (Grupo de Familiares dos Alcoólicos Anônimos). Funciona como o AA (Alcoólicos Anônimos), mas com reuniões entre pais, filhos, cônjuges, namorados e amigos próximos do viciado.
Marisa Lopez, mulher de Luís Rodrigues,
advogada, mãe de três filhos adultos, é uma das frequentadoras do
AL-ANON. “Meu marido nunca foi agressivo, mas ele sumia, bebia muito e não
admitia que estava doente. Dizia que era normal, sem perceber que aquilo estava
afetando a nossa vida”, conta ela. “Por duas vezes, ele saiu de casa e foi
morar com um amigo. Da última, há dez anos, desapareceu por dez dias. Quando o
encontramos, ele estava péssimo. Eu e um dos nossos filhos o levamos para uma
clínica. Foi lá que ele passou a frequentar as reuniões do AA e também me
falaram do AL-ANON.”
As
reuniões do AA e do AL-ANON costumam acontecer simultaneamente,
no mesmo local, o que possibilita a troca de experiências entre várias pessoas.
“Um aprende com a experiência do outro. Foi importante entender que o
alcoolismo não era um problema só da minha família.”
A advogada também conta que as reuniões a
ajudaram a retomar a vida social. “Quando o Luís começou a beber eu me
afastei, preferi não sair mais de casa, fiquei com vergonha de mostrar
nossa situação até para as pessoas das nossas famílias. Muita gente
achava que ele fazia aquilo por querer e poderia parar quando quisesse. Foi
difícil! No grupo, eu consegui a coragem de enfrentar a doença ao lado do
Luís.”
Os grupos têm o acompanhamento de profissionais
da área da saúde e de voluntários. Marisa, depois de uma década ali,
compartilha sua história com as famílias que vão chegando, na esperança de
ajudá-las. “Posso mostrar a elas que o meu marido se recuperou”, conta.
O AL–ANON e o
AA são associações sem fins lucrativos e podem ser frequentadas sem custo. As
reuniões acontecem em todo o Brasil e você pode ver o endereço mais próximo
no site:http://alcoolicosanonimos.org.br
Como funciona /Nas
reuniões do AA e do AL-ANON , os presentes são convidados a contar para todos
como conseguiram passar pelos problemas do alcoolismo. Como o vício é
considerado incurável, eles começam dizendo que estão livres dele só por aquele
dia – o lema mais importante do AA é: “não vou beber só por hoje” .
As reuniões do AA e do AL-ANON acontecem em salas diferentes, para não
deixar ninguém constrangido. A regra é: o que se ouve ali não se comenta
em nenhum outro lugar.
aprende com a experiência do outro. Foi importante entender que o
alcoolismo não era um problema só da minha família.”
A advogada também conta que as reuniões a
ajudaram a retomar a vida social. “Quando o Luís começou a beber eu me
afastei, preferi não sair mais de casa, fiquei com vergonha de mostrar
nossa situação até para as pessoas das nossas famílias. Muita gente
achava que ele fazia aquilo por querer e poderia parar quando quisesse. Foi
difícil! No grupo, eu consegui a coragem de enfrentar a doença ao lado do
Luís.”
Os grupos têm o acompanhamento de profissionais
da área da saúde e de voluntários. Marisa, depois de uma década ali,
compartilha sua história com as famílias que vão chegando, na esperança de
ajudá-las. “Posso mostrar a elas que o meu marido se recuperou”, conta.
O AL–ANON e o
AA são associações sem fins lucrativos e podem ser frequentadas sem custo. As
reuniões acontecem em todo o Brasil e você pode ver o endereço mais próximo
no site:http://alcoolicosanonimos.org.br
Como funciona /Nas
reuniões do AA e do AL-ANON , os presentes são convidados a contar para todos
como conseguiram passar pelos problemas do alcoolismo. Como o vício é
considerado incurável, eles começam dizendo que estão livres dele só por aquele
dia – o lema mais importante do AA é: “não vou beber só por hoje” .
As reuniões do AA e do AL-ANON acontecem em salas diferentes, para não
deixar ninguém constrangido. A regra é: o que se ouve ali não se comenta
em nenhum outro lugar.